❝ Baek Yohan é fruto de um romance inesperado e tão livre quanto a vida dos dois malucos que lhe deram origem, os seus pais nunca planejaram ter um filho, muito menos construir uma família, mas o destino tinha outros planos. Seu pai, Baek Haru, filho de um coreano e uma japonesa, foi criado em Okinawa e cresceu cercado por liberdade, ondas e música; sempre viveu sem pressões e guiado apenas pelo fluxo da vida. Já sua mãe, Seori, era uma artista de espírito igualmente criativo, mas nascida dentro de uma família tradicional e conservadora no belíssimo condado de Yangyang.
O romance deles começou quando a família de Seori decidiu tirar férias em Okinawa, onde conheceu Haru e acabou se apaixonando: um breve romance de verão, despreocupado, cheio de praia, sol, desenhos, pranchas e noites longas. Depois, se tornou um relacionamento à distância que sobreviveu através de trocas de e-mails e ligações, conseguindo ter seu reencontro mágico quando Haru conseguiu ir até o condado onde ela vivia. Foram duas semanas intensas de amor que resultaram em uma gravidez não planejada, descoberta por Haru apenas quando já estava de volta a Okinawa. Decidiram ali, ainda separados por um oceano, que se casariam, ainda que fosse um trabalho difícil e que precisariam lutar por isso.
A execução do plano não foi nada fácil. Haru surfava, e esse era seu trabalho até aquele momento; com a descoberta da gravidez, ele decidiu abrir mão de um convite de ouro para integrar uma equipe de surfe que o levaria ao Havaí, apenas para trabalhar muito — o suficiente para juntar dinheiro e, assim, casar com a mulher que amava. Enquanto isso, Seori enfrentava sozinha a maior parte da gravidez, lidando com a desaprovação silenciosa (e às vezes explícita) de sua família, trabalhando para conseguir dinheiro que pudesse ajudar o futuro marido a concluir o plano maluco que tinham feito juntos.
Quando Haru finalmente reuniu o suficiente, recebeu uma nova proposta que envolvia a mesma equipe que tinha recusado antes; agora ele trabalharia na equipe técnica e receberia não só uma casa no Havaí, como estabilidade e um bom salário. Não recusou, mas pediu que lhe dessem tempo para ir até a Coreia buscar Seori e, finalmente, se casar com ela. Porém, tudo se complicou quando chegou em Yangyang: convencer a família dela de que era um bom pretendente foi uma batalha, na qual ele perdeu com a reprovação do pai dela, pois a gravidez inesperada de Seori trouxe conflitos tão intensos que romperam a relação da jovem com os pais.
Exaustos daquela pressão, o casal tomou a decisão de seguir o caminho contrário do esperado: escondidos, se casaram em um cartório com testemunhas aleatórias que encontraram por lá e, só depois, que Seori avisou à família que se mudaria, partiram juntos para o Havaí, carregando todos os seus sonhos em algumas malas e sacolas, deixando tudo para trás.
A vida deles recomeçou no Pacífico. Yohan nasceu algumas semanas depois, antes mesmo de o casal se estabelecer. Foi a comunidade havaiana que acolheu os recém-chegados e, também, foi ela quem trouxe Yohan ao mundo, no qual foi carinhosamente apelidado de Hono, em referência à sua chegada inesperada e ao sentimento de que ele “veio do mundo e parou ali porque os deuses quiseram”.
Foi assim que ele cresceu: entre o mar, a arte e a ausência de pressões sociais. Surfista desde criança por influência de seu pai, adotou o oceano como seu segundo lar e a prancha como extensão de si mesmo. A arte veio pela mãe, que sempre incentivou seus desenhos, celebrando cada traço como se fosse uma obra-prima. Ainda que tivesse essa forte influência, a carreira de surfista profissional começou cedo, aos 14 anos, e isso acabou atrasando a sua vida acadêmica, embora Yohan sempre tivesse rendimento excelente nos estudos. Formou-se no ensino médio aos dezenove anos e decidiu que só consideraria uma universidade depois que conseguisse seu primeiro mundial e foi exatamente aí que acabou entrando de forma tardia em uma faculdade.
A conexão com a Coreia nunca foi exatamente profunda, mas Yohan desejava essa ponte e, foi aí que descobriu que o país agora oferecia um programa de bolsa atleta para esportes de categoria olímpica, incluindo, claro, o surfe. Bastava ter uma carreira sólida, títulos juvenis ou algum destaque profissional que chamasse a atenção da instituição, e, claro, do país. Então Yohan viu ali que as suas chances na universidade eram grandes, bastava se oferecer como representante do país nas olimpíadas e apresentar o seu currículo poderoso dentro da categoria. Dessa forma foi selecionado para ingressar como aluno bolsista, desde que conciliasse treinos e estudos com responsabilidade. Não foi um problema — Yohan era disciplinado de um jeito natural, quase intuitivo.
E foi nesse equilíbrio que, ironicamente, se aproximou da família materna. Já que se mudaria para a Coreia, precisou escolher um lugar próximo o suficiente para não atrapalhar seus treinos, e Yangyang, uma das regiões mais conhecidas pelas “boas ondas”, foi a sua escolha. Ele conheceu os avós longe de seus pais, escondendo deles sua ligação com a família, mas se deram bem com muita facilidade, e esses avós encontraram nele a chance de viver ao lado de um neto que nunca tiveram a oportunidade de conhecer, Yohan só abriu o jogo quando ele não conseguiu mais esconder a ligação sanguínea que havia entre eles.
Agora, após dois anos na JIA, ampliou sua formação com a inclusão de animação no currículo e conseguiu unir as duas paixões que herdou de seus pais: o mar e a arte. Seu próximo objetivo se tornou mais simples e, ao mesmo tempo, gigante: competir nas Olimpíadas e conquistar sua tão sonhada medalha de ouro. ❞